quinta-feira, janeiro 04, 2007

O SEGREDO DA FORÇA
Força para se lançar adiante é o que, em primeiro lugar, necessita aquele que esta senda escolheu.Onde se a tem de procurar? Olhando em torno de si, não é difícil ver onde os outros homens encontram a sua força. A origem da mesma existe na sua profunda convicção. Graças a este grande poder moral, nasce na vida natural do homem aquilo que lhe permite, por débil que seja, avançar e vencer. Conquistar o quê? Não continentes nem mundos, mas a si mesmo. Por meio daquela vitória suprema se obtém a entrada no todo, onde tudo o que pode ser conquistado e adquirido pelo esforço, se converte de uma vez, não em algo, mas em nós mesmos.
Cingir-se a armadura e lançar-se no combate,expondo-se a uma morte entre a confusão da batalha, é coisa fácil; permanecer silencioso no meio da tagarelice do mundo, conservar a tranquilidade durante o alvoroço do corpo, guardar silêncio no meio dos mil gritos dos sentidos e desejos e, então, despojado de toda a armadura, sem precipitação, sem excitação alguma,colher a serpente mortal de nós mesmos e matá-la, não é fácil. Apesar de tudo, isto é o que se deve fazer. O qual unicamente pode ter lugar no momento de equilíbrio, quando o inimigo está desconcertado pelo silêncio.
Para este momento supremo,é necessária uma força tal, como a que nenhum herói dos campos de batalha necessita. Um grande soldado deve possuir a convicção plena e profunda da justiça de sua causa e da rectidão do seu método. O homem que combate contra si mesmo e vence, pode unicamente fazê-lo quando sabe que, empenhando-se naquela guerra, faz a única coisa que é digna de se levar a cabo; e quando sabe que, conduzindo-se deste modo, reduz ao seu serviço os céus e inferno. Sim, em ambos permanece. Não precisa ele de céu algum, do qual o prazer venha à maneira de prémio durante largo tempo prometido; inferno algum tem onde o aguarde a pena com a qual será castigado por seus pecados. Porque venceu uma vez por todas aquela astuta serpente em si mesmo, a qual se move de um a outro lado no seu constante desejo de contacto, na sua trajetória perpétua atrás do prazer e da dor. Nunca jamais ( uma vez a vitória alcançada) tremerá, ou se encherá de gozo por qualquer pensamento acerca do que o futuro compreende. Todas aquelas sensações ardentes que lhe pareciam constituir as únicas provas da sua existência, já não as constituem. Como pode, então, conhecer que vive? Sabe-o unicamente por argumento. E, com o tempo, não cuida sequer de arguir acerca do mesmo. Porque nele então reina a paz. E aquela paz encontrará o poder que anelou. Então saberá o que é aquela fé que pode transportar montanhas.

Pelas Portas de Ouro, de Mabel Collins , Ed. Pensamento